quinta-feira, 19 de abril de 2012

A censura aos dicionários

O Dicionário Houaiss está sendo vítima de um processo para que retire um dos seus verbetes, por uma pessoa ter se sentido ofendida ao considerar o verbete como sendo “pejorativo”, “preconceituoso” ou “discriminatório” para com a sua, digamos, etnia. Se o pedido para a retirada do referido verbete for aceito, abrirá um precedente perigoso para a Língua Portuguesa, podendo até mesmo comprometer futuras pesquisas sobre a evolução da nossa língua.

As palavras, ao longo do tempo, podem deixar de ser usadas, sofrer alterações em sua grafia e/ou pronúncia e, até mesmo, sofrer uma mudança de significado. É o caso, por exemplo, da palavra “medíocre” que, antigamente, era usada no sentido de comum, algo que estava na média, mediano, e que hoje é utilizada com o significado de vulgar. O próprio sentido da palavra vulgar foi alterado ao longo do tempo, já que antes era usada como sendo relativa ao povo – o vulgo – e atualmente tem o sentido de algo de baixa categoria.

Atualmente, com a imbecilidade e o exagero que se tornou a ideia de “politicamente correto”, estamos cometendo alguns excessos e esquecendo elementos que fazem parte da nossa cultura.

A Inglaterra, por exemplo, adotou a política de não estudar o holocausto nas escolas para não ‘ofender’ aos estudantes de países como o Irã, por exemplo, que negam a ocorrência desta política de extermínio. Mas não se importam de ofender os descendentes daqueles que foram exterminados de maneira cruel e preconceituosa pelos nazistas. No Brasil, a imbecilidade chegou ao ponto de algumas pessoas sugerirem que se alterassem trechos de obras de autores nacionais, como Machado de Assis, por exemplo, por estas obras conterem palavras ou frases que, atualmente, são consideradas como preconceituosas ou machistas. Ou seja, os ‘vencedores’, como sempre ocorreu, querem descrever a História ao seu bel prazer, e criar uma história tão fictícia quanto a história dos livros que eles criticam.

A retirada de verbetes de dicionários servirá apenas para que apaguemos fatos de nossa memória e percamos as referências que mostram o desenvolvimento da nossa língua.

Nem sempre utilizamos as coisas da maneira mais correta, e isso serve para a linguagem, também. Contudo, retirar palavras ou fatos da nossa História não irá mudar o passado, e nós não poderemos utilizar esse passado para aprender com os seus erros.

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