domingo, 25 de março de 2012

O ‘Grande Irmão’ e a ditadura do pensamento

No livro “1984”, o escritor George Orwell retrata uma Inglaterra onde as pessoas eram vigiadas o tempo todo por câmeras, e as teletelas, que corresponderiam às nossas televisões, transmitiam programas confeccionados pelo Governo para doutrinar as pessoas a pensarem como o governo queria que elas pensassem. Essas pessoas não deveriam ter ideias próprias, mas, ao contrário, deveriam pensar de maneira uniforme, em concordância com o que a sociedade “pensava”. Havia vários tipos de propaganda que induziam as pessoas a agir de uma maneira uniforme, como se fosse um admirável gado humano. O governo era de responsabilidade de “alguém’” que era conhecido como Big Brother – o Grande Irmão. A sociedade vivia em uma ditadura que a condicionava a pensar que era livre.
A história do livro foi adaptada para o cinema em um filme homônimo. Fez muito sucesso em uma certa época, sendo cultuado por muita gente. Atualmente, poucas pessoas lembram dessa história, e mesmo entre os fãs do programa Big Brother, exibido pela Rede Globo, poucos sabem que o nome do programa foi tomado emprestado deste livro – o Grande Irmão que a todos vigiava.
O leitor que por acaso estiver lendo este texto deve estar se perguntando: e o que é que eu tenho a ver com um livro escrito lá pela década de 50? Muito, caro leitor.
Se observarmos com atenção, muitas das situações descritas no livro já estão se tornando realidade. Algumas, já se tornaram. Por exemplo, o fato de que as pessoas do livro eram vigiadas 24 horas por câmeras. Atualmente, em todos os lugares aonde vamos lemos aquela placa que diz “Sorria! Você está sendo filmado!”, quando na verdade a placa quer dizer “Não roube nada, ou os seguranças cairão em cima de você!”. Bancos, supermercados, escolas, restaurantes, aeroportos. Em todos os lugares vemos câmeras que filmam 24 horas por dia, para a nossa segurança e a segurança dos locais onde elas estão instaladas. A vigilância é total. Até mesmo residências espalham câmeras por todos os lados para que seus moradores possam sentir-se mais seguros. Dessa forma, somos vigiados onde quer que estejamos, tendo nossas vidas controladas em prol da segurança. Se alguém vai
usar essas filmagens para nos manter seguros ou para vigiar nossos passos, para atender a interesses dos quais sequer desconfiamos, não sabemos. Mas é um fato que vivemos vigiados.
Temos, também, a vigilância que é feita pelos computadores sobre a vida das pessoas. O que elas compram, para onde viajam nas férias, quanto gastam por mês, onde trabalham, quanto ganham, o que leem, que filmes alugam, para quem ligam. Tudo está armazenado na memória de milhões de computadores, que sabem mais sobre você do que você mesmo.
O outro ponto, mais sutil e, talvez por isso mesmo, mais grave, refere-se à liberdade de pensamento que deveria existir em todos os lugares que se dizem “democráticos”. A liberdade de pensamento foi um dos legados que os filósofos da antiguidade, tais como Sócrates e Platão, por exemplo, nos deixaram. Foi por essa Liberdade que tantos lutaram e morreram ao longo do tempo. O Iluminismo pregava o uso da Razão e a liberdade de opiniões, a ponto de um de seus principais articuladores, Voltaire, dizer que “não concordo com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”.
Porém, estamos vivendo um período em que a liberdade de pensamento vem sendo cerceada, mas ninguém parece dar conta disso. Vejamos a questão do ‘politicamente correto’. Essa expressão é uma forma criada para controlar o que podemos e o que não podemos dizer.
Atualmente, temos que seguir o que é considerado o ‘pensamento geral’, e não o que nós pensamos sobre determinadas questões. Aliás, somos desencorajados de pensar por conta própria, devendo seguir o que é considerado correto.
Vemos em propagandas, em novelas e outros programas da televisão, mensagens subliminares, e outras nem tão subliminares assim, que nos dizem o que vestir, aonde ir, de que música devemos gostar, como devemos nos comportar etc. E as pessoas, sem questionar, acabam assimilando essas ‘ordens’ e, inocentemente – e por que não dizer, imbecilmente – apregoam que “estão na moda”. Essa ‘moda’, por sinal, é uma ditadura do comportamento, alinhando todas as pessoas a seguir um determinado padrão de comportamento. E as pessoas, assim como o gado que vai obedientemente para o abatedouro, seguem-na sem questionar.
Em questões totalmente subjetivas, onde cada um deveria ter sua maneira de pensar, somos obrigados a ‘seguir a moda’. Não sou contra o homossexualismo, por exemplo. Acho que todos têm o direito de fazerem o que quiserem com a sua vida, desde que não interfiram com a vida dos outros. Contudo, mesmo não concordo com os que são contra os homossexuais, sigo a linha de pensamento de Voltaire, e defendo o seu direito de pensamento e expressão. Porém, se alguém, publicamente, se declarar contra o homossexualismo, será execrado e sofrerá todos os tipos de pressões e discriminações. E isso se aplica a várias áreas.
A própria escola, que deveria fornecer aos alunos subsídios para que eles pudessem se tornar pensadores independentes, acaba por não fazer isso, engessando o pensamento dos alunos com aulas e atividades que os levam simplesmente a decorar o que foi exposto, ao invés de refletir e tomar uma posição sobre o assunto.
Vivemos um período de ditadura, mas uma ditadura que nos faz sentir livres. O Grande Irmão está aí, nos vigiando e conduzindo os nossos passos, nos doutrinando a cada dia, nos dizendo o que fazer e nos dando a impressão de que a escolha foi nossa. E nós, como bons carneirinhos que somos, seguimos o caminho que nos é indicado, assim como o gado segue mansamente pelo caminho que o levará ao abate.

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